sábado, 23 de setembro de 2017

S. PIO DE PIETRELCHINA, Memória





Hoje a Igreja celebra a memória do Santo Capuchinho que marcou o século passado e continua do Céu, mais do que nunca, a sua obra de evangelização: Padre Pio de Pietrelcina.
Onze dias antes da sua morte, o Padre Pio de Pietrelcina escreveu uma carta ao Papa Paulo VI. Nessa missiva dizia o santo: “Sei bem das profundas aflições que angustiam o vosso coração nestes dias relativamente aos novos rumos da Igreja, à paz do mundo e as múltiplas necessidades dos povos. Mas sobretudo pela falta de obediência de alguns católicos a respeito dos esclarecedores ensinamentos que Sua Santidade, com o auxílio do Espírito Santo, nos tem dado em nome de Deus”, e agradece ao Pontífice, “em nome de meus filhos espirituais e dos grupos de oração” pela “posição clara e decisiva que nos transmitistes, especialmente na última encíclica Humanae Vitae, e reafirmo a minha fé e a minha obediência incondicional às vossas iluminadas diretrizes”.
Hoje a Igreja comemora o 45° aniversário da entrada ao paraíso do Santo Estigmatizado, canonizado por João Paulo II no dia 16 de Junho de 2002.
“Qual é o segredo de tanta admiração e amor a este novo Santo?” - perguntava João Paulo II no discurso da cerimônia de canonização – “Ele é, em primeiro lugar, um ‘frade do povo’, característica tradicional dos Capuchinhos. Além disso, ele é um santo taumaturgo, como testemunham os extraordinários acontecimentos que adornam a sua vida. Mas, sobretudo, Padre Pio é um religioso sinceramente apaixonado de Cristo crucificado. Ele participou no mistério da Cruz também de maneira física ao longo da sua vida”.

Vida e vocação

Nascido no dia 25 de Maio de 1887, às cinco horas duma tarde chuvosa, Francisco Forgione, o futuro capuchinho santo, é da cidade de Pietrelcina (Província de Benevento), na época uma pacata região onde a população era sã e crente. O casamento de Grazio Forgione e Maria Giusappa De Nunzio foi abençoado com o fruto de oito nascimentos, sendo o Padre Pio, o quinto filho.
Já como criança mostrou ter uma grande sensibilidade para o sobrenatural; desde a idade de onze anos, consagrou-se espontaneamente ao Senhor e a S. Francisco.
Depois de terminados os estudos preparatórios como postulante, quando as primeiras dificuldades que ameaçavam o desabrochar da sua vocação foram vencidas, foi permitido a Francisco começar o seu noviciado nos Padre Capuchinhos no convento de Morcone, na província de Benevento, no dia 22 de Janeiro de 1903. A 10 de Agosto de 1910 foi ordenado sacerdote na catedral de Benevento por Monsenhor Shinosi. Entre a numerosa assistência notava-se sua mãe. Chorava comovida: um filho padre!

Sofrimento, oferecimento e estigmas

“Sinto dores violentas. Tenho a impressão que as minhas mãos, os meus pés e o meu lado são trespassados por uma lâmina, enquanto eu medito na Paixão de Cristo”, escrevia o santo ao seu confessor por volta de 1912, quando tinha apenas 23 anos.
“A missa do Padre Pio era um mistério incompreensível”, declara Don Giuseppe Orlando, um santo padre, também ele nascido em Pietrelcina: “A missa por vezes durava mais de quatro horas. Via-se que estava de tal forma abrasado em Deus que ficava mais de uma hora imóvel em êxtase. Por vezes, ficava como que petrificado como o altar. A expressão do seu rosto transfigurava-se; por momentos irradiava felicidade, depois exprimia de novo sofrimento e dores físicas”.
Na Sexta-Feira, 20 de Setembro de 1918 recebeu, tal como o seu bem-aventurado patrono S. Francisco de Assis, a marca sangrenta das chagas de Cristo, nas mãos, nos pés e no lado esquerdo. O Padre Pio estava só no convento. Recebeu os estigmas durante uma visão. Enquanto o jovem capuchinho estava em oração no coro da pequena igreja, meditando na Paixão de Cristo diante do grande crucifixo que aí se encontrava e ainda se encontra, Cristo apareceu-lhe com as chagas sangrentas. Ele mesmo narra em uma das suas cartas:
“Encontrava-me no coro – conta ele – depois da celebração da missa, quando fui surpreendido por uma calma que se assemelhava a um doce sono. Todos os meus sentidos, internos e externos e a faculdade do meu espírito, também se encontravam numa tranquilidade indescritível...” E continua “E todo o resto se passou num relâmpago, e enquanto isto se passava, eu vi diante de mim um personagem misterioso, o mesmo que tinha aparecido a cinco de Agosto, com a única diferença que desta vez as suas mãos e os seus pés e o seu peito escorriam sangue. Esta visão apavorou-me; o que senti nesse instante, nunca lho saberei contar. Sentia-me morre e decerto teria morrido se o Senhor não interviesse, para suster o meu coração que me parecia querer saltar do meu peito. Essa personagem desapareceu e então reparei que as minhas mãos, os meus pés e o meu peito, estavam trespassados e escorriam sangue! Imagine a tortura que senti então e que sinto continuamente cada dia...”

Zelo apostólico

Entre as pessoas ilustres que o procuraram encontra-se o então bispo de Cracóvia, Karol Wojtyla, futuro Papa João Paulo II. Testemunham isso também duas cartas enviadas ao santo no ano de 1962, quando Karol se encontrava em Roma durante o Concílio Vaticano II. Nessa carta agradece a oração do Padre Pio pela cura de uma médica com cancro e pelo filho de um advogado de Cracóvia que trazia uma doença de nascença. Na carta pedia também a intercessão por mais duas intenções: uma senhora paralisada e as enormes necessidades pastorais da sua diocese.
O Padre Pio não pensava senão nas almas. Numa carta dirigia ao seu confessor, escrevia: “Nada mais vos quero dizer senão isto: Jesus concede-me uma íntima alegria quando posso sofrer e trabalhar pelos meus irmãos. Trabalhei e continuarei a trabalhar. Rezei e quero continuar a rezar pelos meus irmãos. Velei e quero continuar a velar ainda mais. Chorei e quero chorar sempre pelos meus irmãos no exílio”.
“Segui o exemplo do vosso santo confrade falecido há pouco – dizia Paulo VI em um discurso aos membros do Capítulo Geral da Ordem dos Capuchinhos – “Vede a fama que ele teve! Que clientela mundial ele não conseguiu à sua volta! Mas, porquê? – Seria ele um filósofo, um sábio, dispondo de meios? – Apenas porque dizia missa humildemente, confessava de manhã à noite, e era, é difícil de o dizer, o representante de Nosso Senhor, marcado com as chagas da nossa Redenção”. Peçamos hoje a intercessão de tão poderoso amigo de Deus.

In http://senzapagare.blogspot.pt/2017/09/padre-pio-dizia-missa-humildemente.html

DOMINGO XXV A DO TEMPO COMUM


LITURGIA DA PALAVRA

LEITURA I Is 55, 6-9
«Os meus pensamentos não são os vossos».

SALMO RESPONSORIAL
Sl 144 (145), 2-3.8-9.17-18 (R. 18a)
O Senhor está perto de quantos O invocam.

LEITURA II Flp 1, 20c-24.27a
«Para mim, viver é Cristo».

ALELUIA cf. Act 16, 14b
Abri, Senhor, os nossos corações,
para aceitarmos a palavra do vosso Filho.

EVANGELHO Mt 20, 1-16a
«Serão maus os teus olhos porque eu sou bom?».

* NOTA: Devido a razões históricas, as Antífonas do Próprio da Missa mantiveram-se inalteráveis para conservar a tradição. Contudo, o que pretende ser a conservação de um tesouro musical acaba por gerar incongruências, como é o caso do presente Domingo, em que as Antífonas de Comunhão oficialmente propostas em nada condizem com a Liturgia da Palavra. A este problema respondeu a igreja italiana com propostas novas alocadas no missal oficial, como se pode comprovar em
[http://www.maranatha.it/MessaleRomano/coverpage.htm].
Infelizmente, o Missal Português não prevê nada semelhante.
Neste sentido, lanço neste blog a minha opinião pessoal sobre aquilo que considero serem as melhores opções diante das leituras proclamadas na Liturgia da Palavra.

CÂNTICOS PROPOSTOS

ANTÍFONA DE ENTRADA:
Eu darei ao meu povo a salvação [António Cartageno]
Eu sou a salvação do meu povo [Carlos Silva]
Eu sou a salvação do meu povo [Ferreira dos Santos]

SALMO RESPONSORIAL:
O Senhor está perto de quantos o invocam [Manuel Luís]

ANTÍFONA DE COMUNHÃO:
Encheis a terra, Senhor [Pedro e Miranda]
Já não sou eu que vivo [Acílio Mendes]

ANTÍFONA DE PÓS-COMUNHÃO:

Sei em quem acreditei [Acílio Mendes]
Eu sei em quem pus a minha confiança [António Cartageno]
Senhor, eu creio que sois Cristo [Fernandes da Silva]
Crê em Jesus e serás salvo [Teodoro Sousa]
Cremos em Vós, ó Deus [Melodia Tradicional]
Cristo, Filho de Deus Pai [Teodoro Sousa]
Anima Christi [Marco Frisina]
Quem nos separará? [Marco Frisina]

ANTÍFONA FINAL:
O Senhor salvou-me [Carlos Silva]
Povo teu somos [Loys Bourgeois]

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

NOVENA A S. MIGUEL, ARCANJO



4. QUEM É S. MIGUEL?

4.1 Significado do Nome

Miguel (em hebraico: מִיכָאֵל; Micha'el ou Mîkhā'ēl; em grego: Μιχαήλ, Mikhaḗl; em latim: Michael ou Míchaël; em árabe: ميخائيل, Mīkhā'īl) é o arcanjo que está acima de todos os seres espirituais e invisíveis criados por Deus.
Em hebraico, Miguel significa «aquele que é semelhante a Deus» (mi-«quem», ka-«como», El-«Deus»), o que é tradicionalmente interpretado como uma pergunta retórica: «Quem como Deus?» (Quis ut Deus?), para a qual se espera uma resposta negativa, e que implica que «ninguém» é como Deus. Assim, Miguel é reinterpretado como um símbolo de humildade perante Deus.

4.2 Contexto na História Cristã

Os primeiros cristãos consideravam alguns mártires, como é o caso de S. Jorge e S. Teodoro, patronos militares. Porém, era a São Miguel, que eles entregavam o bem-estar dos doentes, sendo, por isso, venerado na Frígia como curador.
O mais antigo e mais famoso santuário de São Miguel no Próximo Oriente  Antigo estava associado às suas águas medicinais. Michaelion foi construído no início do século IV pelo imperador romano Constantino I em Calcedónia, no lugar de um templo anterior chamado Sosthenion.
A pintura do Arcanjo Miguel a matar a serpente ganhou relevância perante as outras no Michaelion depois de Constantino ter derrotado Licínio nas redondezas, em 324, eventualmente tornando-a o padrão da iconografia de S. Miguel como um santo guerreiro, a matar um dragão. O Michaelion tinha uma magnífica igreja que se tornou modelo para centenas de outras igrejas no cristianismo oriental, a partir da qual se espalhou a devoção ao Arcanjo.
No século IV, a homilia de Basílio de Cesareia, De Angelis, colocou Miguel acima de todos os outros Anjos. Miguel foi cognominado de «Arcanjo» por ser o príncipe dos outros anjos. No século VI, a imagem de Miguel como curador continuava em Roma, algo visível pelo costume de os doentes, após uma epidemia, dormirem uma noite no Castel Sant'Angelo (dedicado a Miguel por ter salvo Roma), à espera da sua manifestação.
No século VI, o crescimento da devoção ao santo na Igreja Ocidental  manifestou-se pelas festas em sua honra, como se pode ver no Sacramentário Leonino. No século VII, o Sacramentário gelasiano incluia uma festa para "S. Michaelis Archangeli", assim como o Sacramentário Gregoriano.  Alguns destes documentos mencionam uma hoje inexistente Basilica Archangeli na Via Salária, em Roma.
A angeologia de Pseudo-Dionísio, que era amplamente lida já no século VI, dava a Miguel uma alta posição na hierarquia celestial. Posteriormente, no século XIII, outros, como Boaventura, acreditavam que ele seria o príncipe dos Serafins, a primeira das nove ordens angélicas. De acordo com Tomás de Aquino, ele seria o príncipe da última e mais baixa ordem, a dos anjos.

4.3 Passagens Bíblicas:

Dn 12, 1: «Nesse tempo se levantará Miguel, o grande príncipe que se levanta a favor dos filhos do teu povo».

1 Ts 4, 16: «porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, com voz de arcanjo e com trombeta de Deus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro».

Jd 1, 9: «Mas quando Miguel, o arcanjo, discutindo com o Diabo, altercava sobre o corpo de Moisés, não ousou fulminar-lhe sentença de blasfemo, mas disse: O Senhor te repreenda».

Ap 12, 7-9: «Houve no céu uma guerra, pelejando Miguel e seus anjos contra o dragão. O dragão e seus anjos pelejaram, e não prevaleceram; nem o seu lugar se achou mais no céu. Foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama Diabo e Satanás, aquele que engana todo o mundo; sim, foi precipitado na terra, e precipitados com ele os seus anjos».

4.4 Novena

Rezar diariamente durante 9 dias (de 20 a 28 de Setembro) estas orações:

Glorioso São Miguel Arcanjo, o primeiro entre os Anjos de Deus, guarda e protector da Igreja Católica, lembrando de que Nosso Senhor vos confiou a missão de velar pelo seu povo, em marcha para a vida eterna, mas rodeado de tantos perigos e ciladas do dragão infernal, eis-me prostrado a vossos pés, para implorar confiadamente o vosso auxílio, pois não há necessidade alguma em que não possais valer. Sabeis a angústia por que passa a minha alma. Ide junto a Maria, nossa Mãe muito amada, ide a Jesus e dizei-lhe uma palavra em meu favor, pois sei que Eles nada vos podem recusar. Intercedei pela salvação da minha alma e, também agora, por aquilo que tanto me preocupa:

(Fazer o pedido)

E se o que peço não é para glória de Deus e o bem da minha alma, obtende-me paciência e que eu me conforme com a Vontade Divina, pois sabeis o que é mais do agrado de Nosso Senhor e Pai.  Em nome de Jesus, Maria e José, atendei-me. Ámen.

Rezar, depois, 9 Glória-ao-Pai em acção de graças por todos os dons concedidos por Deus a São Miguel e aos Nove coros de Anjos:

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Ámen.

Invocação a São Miguel Arcanjo (pequeno Exorcismo):

São Miguel Arcanjo, defendei-nos neste combate, sede o nosso auxílio contra as maldades e as ciladas do demónio. Instante e humildemente vos pedimos que Deus sobre ele impere. E vós, Príncipe da Milícia Celeste, com esse poder divino, precipitai no inferno a satanás e aos outros espíritos malignos que vagueiam pelo mundo para perdição das almas. Ámen.

sábado, 16 de setembro de 2017

DOMINGO XXIV A DO TEMPO COMUM


LITUGIA DA PALAVRA

LEITURA I Sir 27, 33 – 28, 9
«Perdoa a ofensa do teu próximo
e quando pedires, as tuas faltas serão perdoadas».

SALMO RESPONSORIAL
Sl 102 (103), 1-2.3-4.9-10.11-12 (R. 8)
O Senhor é clemente e compassivo,
cheio de misericórdia para com todos.

LEITURA II Rm 14, 7-9
«Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor».

ALELUIA Jo 13, 34
Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.

EVANGELHO Mt 18, 21-35
«Não te digo que perdoes até 7 vezes, mas até 70 vezes 7».

* NOTA: Devido a razões históricas, as Antífonas do Próprio da Missa mantiveram-se inalteráveis para conservar a tradição. Contudo, o que pretende ser a conservação de um tesouro musical acaba por gerar incongruências, como é o caso do presente Domingo, em que as Antífonas de Comunhão oficialmente propostas em nada condizem com a Liturgia da Palavra. A este problema respondeu a igreja italiana com propostas novas alocadas no missal oficial, como se pode comprovar em
[http://www.maranatha.it/MessaleRomano/coverpage.htm].
Infelizmente, o Missal Português não prevê nada semelhante.
Neste sentido, lanço neste blog a minha opinião pessoal sobre aquilo que considero serem as melhores opções diante das leituras proclamadas na Liturgia da Palavra.

SUGESTÃO DE CÂNTICOS


ANTÍFONA DE ENTRADA:
Dai a paz, Senhor [Manuel Faria]
Dai a paz, Senhor [Manuel Luís]
Dai a paz, Senhor [Fernando Valente]
Senhor, trazei-nos a paz [Azevedo de Oliveira]
Escutai, Senhor, a prece [António Cartageno]

SALMO RESPONSORIAL:
O Senhor é clemente e compassivo,
cheio de misericórdia para com todos [Manuel Luís]

ANTÍFONA DE OFERTÓRIO:
Deus é amor [Manuel Luís]
Onde há caridade e amor [Manuel Luís]
Onde há caridade verdadeira [Carlos Silva]
Vesti-vos de caridade [Ferreira dos Santos]
Se tens alguma ofensa [J. Gonçalves]
Aproximai-vos do Senhor [Fernandes da Silva]
Aproximai-vos do Senhor [Ferreira dos Santos]

ANTÍFONA DE COMUNHÃO:
Dou-vos um mandamento novo [Fernandes da Silva]
Recebemos do Senhor um mandamento novo [Manuel Luís]
Se cumprirdes os meus mandamentos [Carlos Silva]
Se vos amardes uns aos outros [Fernandes da Silva]

ANTÍFONA DE PÓS-COMUNHÃO:
Quanta paz e quanto bem [Manuel Luís]
O amor de Deus repousa em mim [Manuel Luís]

ANTÍFONA FINAL:
Ao Senhor do universo [Fernandes da Silva]
Povos da terra, louvai [Manuel Simões]
Povos da terra, cantai [Stralsund]

sábado, 9 de setembro de 2017

DOMINGO XXIII A DO TEMPO COMUM






Tema do 23º Domingo do Tempo Comum

A liturgia deste domingo sugere-nos uma reflexão sobre a nossa responsabilidade face aos irmãos que nos rodeiam. Afirma, claramente, que ninguém pode ficar indiferente diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão e que todos somos responsáveis uns pelos outros.
A primeira leitura fala-nos do profeta como uma “sentinela”, que Deus colocou a vigiar a cidade dos homens. Atento aos projectos de Deus e à realidade do mundo, o profeta apercebe-se daquilo que está a subverter os planos de Deus e a impedir a felicidade dos homens. Como sentinela responsável alerta, então, a comunidade para os perigos que a ameaçam.
O Evangelho deixa clara a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Trata-se de um dever que resulta do mandamento do amor. Jesus ensina, no entanto, que o caminho correcto para atingir esse objectivo não passa pela humilhação ou pela condenação de quem falhou, mas pelo diálogo fraterno, leal, amigo, que revela ao irmão que a nossa intervenção resulta do amor.
Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Roma (e de todos os lugares e tempos) a colocar no centro da existência cristã o mandamento do amor. Trata-se de uma “dívida” que temos para com todos os nossos irmãos, e que nunca estará completamente saldada.

LEITURA I – Ez 33, 7-9

Leitura da Profecia de Ezequiel

Eis o que diz o Senhor:
«Filho do homem,
coloquei-te como sentinela na casa de Israel.
Quando ouvires a palavra da minha boca,
deves avisá-los da minha parte.
Sempre que Eu disser ao ímpio: ‘Ímpio, hás-de morrer’,
e tu não falares ao ímpio para o afastar do seu caminho,
o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade,
mas Eu pedir-te-ei contas da sua morte.
Se tu, porém, avisares o ímpio,
para que se converta do seu caminho,
e ele não se converter,
morrerá nos seus pecados,
mas tu salvarás a tua vida».

AMBIENTE

Ezequiel é conhecido como “o profeta da esperança”. Desterrado na Babilónia desde 597 a.C. (no reinado de Joaquin, quando Nabucodonosor conquista Jerusalém pela primeira vez e deporta para a Babilónia a classe dirigente do país), Ezequiel exerce aí a sua missão profética entre os exilados judeus.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorre entre 593 a.C. (data do seu chamamento) e 586 a.C. (data em que Jerusalém é arrasada pelas tropas de Nabucodonosor e uma segunda leva de exilados é encaminhada para a Babilónia). Nesta fase, Ezequiel procura destruir falsas esperanças e anuncia que, ao contrário do que pensam os exilados, o cativeiro está para durar… Eles não só não vão regressar a Jerusalém, mas os que ficaram em Jerusalém (e que continuam a multiplicar os pecados e as infidelidades) vão fazer companhia aos que já estão desterrados na Babilónia.
A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrola-se a partir de 586 a.C. e prolonga-se até cerca de 570 a.C. Instalados numa terra estrangeira, privados de templo, de sacerdócio e de culto, os exilados estão desesperados e duvidam da bondade e do amor de Deus. Nessa fase, Ezequiel procura alimentar a esperança dos exilados e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus salvador e libertador – esse Deus que Israel descobriu na sua história – não os abandonou nem esqueceu.
Pelo conteúdo, não é possível dizer de forma clara se o texto que hoje nos é proposto como primeira leitura pertence à primeira ou à segunda fase da actividade profética de Ezequiel. Em qualquer caso, ele define – recorrendo à imagem da sentinela – a missão profética: o profeta é, entre os exilados, como uma sentinela atenta, que escuta os apelos de Deus e que avisa o Povo dos perigos que aparecem no horizonte da comunidade.

MENSAGEM

A imagem da sentinela aplicada ao profeta não é nova. Já Habacuc (cf. Hab 2, 1), Isaías (cf. 21, 6), Jeremias (cf. Jer 6, 17) e mesmo Oseias (cf. Os 5, 8) recorrem a esta figura para definir a missão profética.
O que é que significa dizer que o profeta é uma “sentinela”? A sentinela é o vigilante atento que, enquanto os outros descansam, perscruta o horizonte e procura detectar o perigo que ameaça a sua cidade, os seus concidadãos, os seus camaradas de armas. Quando pressente o perigo, tem a obrigação de dar o alarme. Dessa forma, a comunidade poderá preparar-se para enfrentar o desafio que o inimigo lhe vai colocar. Se a sentinela não vigiar ou se não der o alarme, será responsável pela catástrofe que atingiu o seu Povo.
Assim é o profeta. Ele é esse guarda que Jahwéh colocou no meio da comunidade do Povo de Deus, para perscrutar atentamente o horizonte da história e da vida do Povo e para dar o alarme sempre que a comunidade corre riscos.
Para que o profeta seja uma sentinela eficiente, ele tem de ser, simultaneamente, um homem de Deus e um homem atento ao mundo que o rodeia.
O profeta é, antes de mais, um homem que Jahwéh chamou ao seu serviço. Eleito por Jahwéh, chamado para o serviço de Jahwéh, ele vive em comunhão com Deus; e nessa intimidade que vai criando com Deus, ele descobre a vontade de Deus e aprende a discernir os projectos que Deus tem para os homens e para o mundo. Ao mesmo tempo, o profeta é um homem do seu tempo, mergulhado na realidade e nos desafios da sociedade em que está integrado; conhece o mundo e é capaz de ler, numa perspectiva crítica, os problemas, os dramas e as infidelidades dos seus contemporâneos.
Ao contemplar os planos de Deus e a vida do mundo, o profeta dá-se conta do desfasamento entre uma realidade e outra. Apercebe-se de que a realidade da vida dos homens é muito diferente dessa realidade que Deus projectou.
Diante disto, o que é que o profeta faz? Sacode a água do capote e diz que não é nada com ele? Fecha-se no seu mundo cómodo e ignora as infidelidades dos homens aos projectos de Deus? Demite-se das suas responsabilidades e não se incomoda com as escolhas erradas que os seus irmãos fazem?
Não. O profeta recebeu um mandato de Deus para alertar a comunidade para os perigos que a ameaçam. Custe o que custar, doa a quem doer, o profeta tem que dizer a todos – mesmo que os seus concidadãos não o compreendam ou recusem escutá-lo – que continuar a trilhar esses caminhos errados não pode senão conduzir à infelicidade, ao sofrimento, à morte.
O profeta/sentinela é, em última análise, um sinal vivo – mais um – do amor de Jahwéh pelo seu Povo. É Deus que o chama, que o envia em missão, que lhe dá a coragem de testemunhar, que o apoia nos momentos de crise, de desilusão e de solidão… O profeta/sentinela é a prova de que Deus, cada dia, continua a oferecer ao seu Povo caminhos de salvação e de vida. O profeta/sentinela demonstra, sem margem para dúvidas, que Deus
não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão pode partir das seguintes questões:

• E hoje? Deus continua a amar o seu Povo? Continua a querer que ele se converta e viva? Continua a preocupar-Se em oferecer ao seu Povo a salvação – isto é, a possibilidade de ser feliz neste mundo e de alcançar, no final da sua caminhada nesta terra, a vida definitiva? O Deus de ontem não será o Deus de hoje e de amanhã?

• Na verdade, Ele continua a chamar, todos os dias, profetas/sentinelas que alertem o mundo e os homens. Pelo Baptismo, todos nós fomos constituídos profetas. Recebemos do nosso Deus a missão de dizer aos nossos irmãos que certos valores que o mundo cultiva e endeusa são responsáveis por muitos dos dramas que afligem os homens. Temos consciência de que recebemos de Deus uma missão profética e que essa missão nos compromete com a denúncia do que está errado no mundo e na vida dos homens?

• O que é que devemos denunciar? Tudo aquilo que contradiz os projectos de Deus. Portanto, o profeta/sentinela tem de ser alguém que vive em comunhão com Deus, que medita a Palavra de Deus, que dialoga com Deus e que, nessa intimidade, vai percebendo o que Deus quer para os homens e para o mundo. Aliás, é dessa relação forte com Deus que o profeta/sentinela tira também a coragem para falar, para denunciar, para agir. Portanto, dificilmente seremos fiéis à nossa missão profética sem um relacionamento forte com Deus. Encontro tempo para potenciar a relação com Deus, para falar com Deus, para escutar e meditar a sua Palavra?

• É preciso também que o profeta/sentinela desenvolva uma consciência crítica sobre o mundo que o rodeia. Ele tem de estar atento aos acontecimentos da vida nacional e internacional (o profeta tem de ouvir as notícias e ler o jornal!), tem de conhecer a fundo as questões que os homens debatem (senão, a sua intervenção dificilmente será levada a sério); e tem, especialmente, de aprender a ler os acontecimentos à luz de Deus e do projecto de Deus. Estou atento aos sinais dos tempos e procuro analisá-los a partir de uma perspectiva de fé?

• É preciso, finalmente, que o profeta/sentinela não se acomode no seu cantinho cómodo, demitindo-se das suas responsabilidades. Tudo o que se passa no mundo, tudo o que afecta a vida de um homem ou de uma mulher, diz respeito ao profeta. Podemos ficar calados diante das escolhas erradas que o mundo faz? O nosso silêncio não nos tornará cúmplices daqueles que destroem o mundo e que condenam ao sofrimento e à miséria tantos homens e mulheres?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 94 (95)

Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor,
não fecheis os vossos corações.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
Pois Ele é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».

LEITURA II – Rm 13, 8-10

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos

Irmãos:
Não devais a ninguém coisa alguma,
a não ser o amor de uns para com os outros,
pois, quem ama o próximo, cumpre a lei.
De facto, os mandamentos que dizem:
«Não cometerás adultério, não matarás,
não furtarás, não cobiçarás»,
e todos os outros mandamentos,
resumem-se nestas palavras:
«Amarás ao próximo como a ti mesmo».
A caridade não faz mal ao próximo.
A caridade é o pleno cumprimento da lei.

AMBIENTE

Continuamos a ler a segunda parte da Carta aos Romanos (cf. Rm 12, 1-15, 13). Aí, Paulo mostra – em termos práticos – como devem viver aqueles que Deus chama à salvação.
Deus oferece a todos a salvação; ao homem resta acolher o dom de Deus, aderindo a Jesus e à sua proposta… Mas a adesão a Jesus implica assumir, na prática do dia a dia, atitudes coerentes com essa vida nova que o cristão acolheu no dia do seu baptismo. São essas atitudes que Paulo recomenda aos romanos (e aos crentes em geral) nesta segunda parte da carta.
No ano 49, o imperador Cláudio tinha publicado um édito que expulsava de Roma os judeus (incluindo os cristãos de origem judaica). Ora em 57/58 (quando a Carta aos Romanos foi escrita), muitos desses judeus tinham já voltado a Roma. Será que os cristãos de origem pagã, “donos” da comunidade durante bastante tempo, ostentavam a sua superioridade e manifestavam desprezo pelos cristãos de origem judaica entretanto regressados a Roma? Será que, por essa razão, havia divisões e falta de amor na comunidade de Roma? Nessas circunstâncias, Paulo teria escrito uma “carta de reconciliação”, destinada a unir uma comunidade dividida. O apelo ao amor que o nosso texto nos apresenta poderia entender-se neste contexto.

MENSAGEM

Paulo exorta os crentes de Roma a construir toda a sua vida sobre o amor. O cristianismo sem amor é uma mentira. Os cristãos não podem nunca deixar de amar os seus irmãos.
Essa exigência, contudo, nunca estará completamente realizada… Qualquer dívida pode ser liquidada de uma vez; mas o amor não: em cada instante é preciso amar e amar sempre mais. O cristão nunca poderá cruzar os braços e dizer que já ama o suficiente ou que já amou tudo: ele tem uma dívida eterna de amor para com os seus irmãos.
O amor está no centro de toda a nossa experiência religiosa. No mandamento do amor, resume-se toda a Lei e todos os preceitos. Os diversos mandamentos não passam, aliás, de especificações da exigência do amor. A ideia – aqui expressa – de que toda a Lei se resume no amor não é uma “invenção” de Paulo, mas é uma constante na tradição bíblica (cf. Mt 22, 34-40).

ACTUALIZAÇÃO

Na reflexão, ter em conta os seguintes desenvolvimentos:

• Na última ceia, despedindo-se dos discípulos, Jesus resumiu desta forma a proposta que veio apresentar aos homens: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15, 12). Este não é “mais um mandamento”, mas é “o mandamento” de Jesus. Entretanto, algures durante a nossa caminhada pela história, esquecemos “o mandamento” de Jesus e distraímo-nos com questões secundárias… Preocupamo-nos em discutir ritos litúrgicos, problemas de organização e de autoridade, códigos de leis, questões de disciplina… e esquecemos “o mandamento” do amor. Já é tempo de voltarmos ao essencial. O cristão é aquele que, como Cristo, ama sem cálculo, sem contrapartidas, sem limite, sem medida. Na nossa experiência cristã, só o amor é essencial; tudo o resto é secundário.

• As nossas comunidades cristãs, a exemplo da primitiva comunidade cristã de Jerusalém, deviam ser comunidades fraternas onde se notam as marcas do amor. Os que estão de fora deviam olhar para nós e dizer: “eles são diferentes, são uma mais valia para o mundo, porque amam mais do que os outros”. É isso que acontece? Quem contempla as nossas comunidades, descobre as marcas do amor, ou as marcas da insensibilidade, do egoísmo, do confronto, do ciúme, da inveja? Os estrangeiros, os doentes, os necessitados, os débeis, os marginalizados são acolhidos nas nossas comunidades com solicitude e amor?

• É importante sentirmos que a nossa dívida de amor nunca está paga. Podemos, todos os dias, realizar gestos de partilha, de serviço, de acolhimento, de reconciliação, de perdão… mas é preciso, neste campo, ir sempre mais além. Há sempre mais um irmão que é preciso amar e acolher; há sempre mais um gesto de solidariedade que é preciso fazer; há sempre mais um sorriso que podemos partilhar; há sempre mais uma palavra de esperança que podemos oferecer a alguém. Sobretudo, é preciso que sintamos que a nossa caminhada de amor nunca está concluída.

ALELUIA – 2 Cor 5, 19

Aleluia. Aleluia.
Em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo
e confiou-nos a palavra da reconciliação.

EVANGELHO – Mt 18, 15-20

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Se o teu irmão te ofender,
vai ter com ele e repreende-o a sós.
Se te escutar, terás ganho o teu irmão.
Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas,
para que toda a questão fique resolvida
pela palavra de duas ou três testemunhas.
Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja;
e se também não der ouvidos à Igreja,
considera-o como um pagão ou um publicano.
Em verdade vos digo:
Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu;
e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu.
Digo-vos ainda:
Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa,
ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus.
Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome,
Eu estou no meio deles».

AMBIENTE

O capítulo 18 do Evangelho de Mateus é conhecido como o “discurso eclesial”. Apresenta uma catequese de Jesus sobre a experiência de caminhada em comunidade. Aqui, Mateus ampliou de forma significativa algumas instruções apresentadas por Marcos sobre a vida comunitária (cf. Mc 9, 33-37.42-47) e compôs, com esses materiais, um dos cinco grandes discursos que o seu Evangelho nos apresenta. Os destinatários desta “instrução” são os discípulos e, através deles, a comunidade a que o Evangelho de Mateus se dirige.
A comunidade de Mateus é uma comunidade “normal” – isto é, é uma comunidade parecida com qualquer uma das que nós conhecemos. Nessa comunidade existem tensões entre os diversos grupos e problemas de convivência: há irmãos que se julgam superiores aos outros e que querem ocupar os primeiros lugares; há irmãos que tomam atitudes prepotentes e que escandalizam os pobres e os débeis; há irmãos que magoam e ofendem outros membros da comunidade; há irmãos que têm dificuldade em perdoar as falhas e os erros dos outros… Para responder a este quadro, Mateus elaborou uma exortação que convida à simplicidade e humildade, ao acolhimento dos pequenos, dos pobres e dos excluídos, ao perdão e ao amor. Ele desenha, assim, um “modelo” de comunidade para os cristãos de todos os tempos: a comunidade de Jesus tem de ser uma família de irmãos, que vive em harmonia, que dá atenção aos pequenos e aos débeis, que escuta os apelos e os conselhos do Pai e que vive no amor.

MENSAGEM

O fragmento do “discurso eclesial” que nos é hoje proposto refere-se, especialmente, ao modo de proceder para com o irmão que errou e que provocou conflitos no seio da comunidade. Como é que os irmãos da comunidade devem proceder, nessa situação? Devem condenar, sem mais, e marginalizar o infractor?
Não. Neste quadro, as decisões radicais e fundamentalistas raramente são cristãs. É preciso tratar o problema com bom senso, com maturidade, com equilíbrio, com tolerância e, acima de tudo, com amor. Mateus propõe um caminho em várias etapas…
Em primeiro lugar, Mateus propõe um encontro com esse irmão, em privado, e que se fale com ele cara a cara sobre o problema (v. 15). O caminho correcto não passa, decididamente, por dizer mal “por trás”, por publicitar a falta, por criticar publicamente (ainda que não se invente nada), e muito menos por espalhar boatos, por caluniar, por difamar. O caminho correcto passa pelo confronto pessoal, leal, honesto, sereno, compreensivo e tolerante com o irmão em causa.
Se esse encontro não resultar, Mateus propõe uma segunda tentativa. Essa nova tentativa implica o recurso a outros irmãos (“toma contigo uma ou duas pessoas” – diz Mateus – v. 16) que, com serenidade, sensibilidade e bom senso, sejam capazes de fazer o infractor perceber o sem sentido do seu comportamento.
Se também essa tentativa falhar, resta o recurso à comunidade. A comunidade será então chamada a confrontar o infractor, a recordar-lhe as exigências do caminho cristão e a pedir-lhe uma decisão (v. 16a).
No caso de o infractor se obstinar no seu comportamento errado, a comunidade terá que reconhecer, com dor, a situação em que esse irmão se colocou a si próprio; e terá de aceitar que esse comportamento o colocou à margem da comunidade. Mateus acrescenta que, nesse caso, o faltoso será considerado como “um pagão ou um cobrador de impostos” (v. 17b). Isto significa que os pagãos e os cobradores de impostos não têm lugar na comunidade de Mateus? Não. Ao usar este exemplo, o autor deste texto não pretende referir-se a indivíduos, mas a situações. Trata-se de imagens tipicamente judaicas para falar de pessoas que estão instaladas em situações de erro, que se obstinam no seu mau proceder e que recusam todas as oportunidades de integrar a comunidade da salvação.
A Igreja tem o direito de expulsar os pecadores? Mateus não sugere aqui, com certeza, que a Igreja possa excluir da comunhão qualquer irmão que errou. Na realidade, a Igreja é uma realidade divina e humana, onde coexistem a santidade e o pecado. O que Mateus aqui sugere é que a Igreja tem de tom
ar posição quando algum dos seus membros, de forma consciente e obstinada, recusa a proposta do Reino e realiza actos que estão frontalmente contra as propostas que Cristo veio trazer. Nesse caso, contudo, nem é a Igreja que exclui o prevaricador: ele é que, pelas suas opções, se coloca decididamente à margem da comunidade. A Igreja tem, no entanto, que constatar o facto e agir em consequência.
Depois desta instrução sobre a correcção fraterna, Mateus acrescenta três “ditos” de Jesus (cf. Mt 18, 18-20) que, originalmente, seriam independentes da temática precedente, mas que Mateus encaixou neste contexto.
O primeiro (vers. 18) refere-se ao poder, conferido à comunidade, de “ligar” e “desligar”. Entre os judeus, a expressão designava o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido e para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus; aqui, significa que a comunidade (algum tempo antes – cf. Mt 16, 19 – Jesus dissera estas mesmas palavras a Pedro; mas aí Pedro representava a totalidade da comunidade dos discípulos) tem o poder para interpretar as palavras de Jesus, para acolher aqueles que aceitam as suas propostas e para excluir aqueles que não estão dispostos a seguir o caminho que Jesus propôs.
O segundo (v. 19) sugere que as decisões graves para a vida da comunidade devem ser tomadas em clima de oração. Assegura aos discípulos, reunidos em oração, que o Pai os escutará.
O terceiro (v. 20) garante aos discípulos a presença de Jesus “no meio” da comunidade. Neste contexto, sugere que as tentativas de correcção e de reconciliação entre irmãos, no seio da comunidade, terão o apoio e a assistência de Jesus.

ACTUALIZAÇÃO

Na reflexão e partilha, considerar as seguintes questões:

• A palavra “tolerância” é uma palavra profundamente cristã, que sugere o respeito pelo outro, pelas suas diferenças, até pelos seus erros e falhas. No entanto, o que significa “tolerância”? Significa que cada um pode fazer o mal ou o bem que quiser, sem que tal nos diga minimamente respeito? Implica recusarmo-nos a intervir quando alguém toma atitudes que atentam contra a vida, a liberdade, a dignidade, os direitos dos outros? Quer dizer que devemos ficar indiferentes quando alguém assume comportamentos de risco, porque ele “é maior e vacinado” e nós não temos nada com isso? Quais são as fronteiras da “tolerância”? Diante de alguém que se obstina no erro, que destrói a sua vida e a dos outros, devemos ficar de braços cruzados? Até que ponto vai a nossa responsabilidade para com os irmãos que nos rodeiam? A “tolerância” não será, tantas vezes, uma desculpa que serve para disfarçar a indiferença, a demissão das responsabilidades, o comodismo?

• O Evangelho deste domingo sugere a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Convida-nos a respeitar o nosso irmão, mas a não pactuar com as atitudes erradas que ele possa assumir. Amar alguém é não ficar indiferente quando ele está a fazer mal a si próprio; por isso, amar significa, muitas vezes, corrigir, admoestar, questionar, discordar, interpelar… É preciso amar muito e respeitar muito o outro, para correr o risco de não concordar com ele, de lhe fazer observações que o vão magoar; no entanto, trata-se de uma exigência que resulta do mandamento do amor…

• Que atitude tomar em relação a quem erra? Como proceder? Antes de mais, é preciso evitar publicitar os erros e as falhas dos outros. O denunciar publicamente o erro do irmão, pode significar destruir-lhe a credibilidade e o bom-nome, a paz e a tranquilidade, as relações familiares e a confiança dos amigos. Fazer com que alguém seja julgado na praça pública – seja ou não culpado – é condená-lo antecipadamente, é não dar-lhe a possibilidade de se defender e de se explicar, é restringir-lhe o direito de apelar à misericórdia e à capacidade de perdão dos outros irmãos. Humilhar o irmão publicamente é, sobretudo, uma grave falta contra o amor. É por isso que o Evangelho de hoje convida a ir ao encontro do irmão que falhou e a repreendê-lo a sós…

• Sobretudo, é preciso que a nossa intervenção junto do nosso irmão não seja guiada pelo ódio, pela vingança, pelo ciúme, pela inveja, mas seja guiada pelo amor. A lógica de Deus não é a condenação do pecador, mas a sua conversão; e essa lógica devia estar sempre presente, quando nos confrontamos com os irmãos que falharam. O que é que nos leva, por vezes, a agir e a confrontar os nossos irmãos com os seus erros: o orgulho ferido, a vontade de humilhar aquele que nos magoou, a má vontade, ou o amor e a vontade de ver o irmão reencontrar a felicidade e a paz?

• A Igreja tem o direito e o dever de pronunciar palavras de denúncia e de condenação, diante de actos que afectam gravemente o bem comum… No entanto, deve distinguir claramente entre a pessoa e os seus actos errados. As acções erradas devem ser condenadas; os que cometeram essas acções devem ser vistos como irmãos, a quem se ama, a quem se acolhe e a quem se dá sempre outra oportunidade de acolher as propostas de Jesus e de integrar a comunidade do Reino.

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 23º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. PRIVILEGIAR O TEMPO DO ACOLHIMENTO.
É o recomeço. A maior parte dos fiéis estão agora de regresso à paróquia. Será bom privilegiar o tempo do acolhimento, em particular dos novos paroquianos. Depois do sinal da cruz, da saudação e da introdução à celebração, o presidente pode convidar cada um a saudar os seus vizinhos de lugar. Pode igualmente pedir aos novos paroquianos para se apresentarem e acolhê-los em nome de toda a comunidade. Será igualmente bom privilegiar o gesto de paz. O presidente dá a paz a algumas pessoas que vêm ao altar. A paz é em seguida transmitida progressivamente por esse grupo e cada um dá a paz a outra pessoa, depois de a ter recebido simbolicamente. Saudar-se, dar a paz… tal deve continuar depois da celebração. Isso deve ser expresso nas palavras finais de envio. Se possível, pode-se organizar um pequeno convívio após a celebração.

3. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
Bendito sejas, Deus de santidade, que nos chamas a ser santos como Tu mesmo és santo. Nós Te louvamos pelos profetas que nos envias em todo o tempo como sentinelas, para vigiar o nosso caminho e para nos guiar.
Nós Te pedimos por todas as comunidades cristãs: que o teu Espírito nos purifique das más condutas que desvalorizam o nosso testemunho.

No final da segunda leitura:
Nós Te damos graças, Deus de amor, pela Lei viva que nos deste em Jesus e pelos teus apóstolos. Ela é comunicação do teu Espírito. Nós reconhecemos a imensa dívida de amor que temos para contigo.
Nós Te pedimos: mantém-nos receptivos ao teu Espírito de amor. Que ele nos torne conscientes da dívida de mútuo amor de uns para com os outros.

No final do Evangelho:
Deus justo e bom, se eu não interpelar o irmão ou a irmã que se perde, estou em dívida para contigo, porque me torno cúmplice do mal que não me esforço de impedir.
Que o teu Espírito seja para mim fonte de discernimento e de coragem!

4. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística II das Assembleias com Crianças, que evoca com insistência o amor ao próximo e a comunhão fraterna aos quais nos convidam a segunda leitura e o Evangelho de hoje.

5. PALAVRA PARA O CAMINHO.
Ser sentinela… A religião cristã não é um simples assunto pessoal que só a nós diz respeito e que nos desinteressa dos outros. “Sentinela”: qual é o cuidado missionário que está em nós para transmitir a Palavra do Senhor aos nossos irmãos? O nosso amor para com eles é suficientemente forte para os convidar a uma mudança de conduta, se necessário? “Sentinelas”: o amor ao próximo é para nós uma dinâmica de conversão pessoal e comunitária?

Pe. Manuel Barbosa

http://www.dehonianos.org/portal/liturgia/?cid=my-calendar&mc_id=1641