sábado, 3 de março de 2018

FUNDAÇÃO DA CIDADE-ESTADO DO VATICANO

1. Secretaria de Estado

A origem histórica da Secretaria de Estado remonta ao século XV. Com a Constituição Apostólica Non debet reprehensibile, de 31 de Dezembro de 1487, foi instituída a Secretaria Apostólica, composta por 24 Secretários Apostólicos, um dos quais, chamado Secretarius Domesticus, ocupava o lugar mais proeminente. Desta Secretaria Apostólica derivaram a Chancelaria dos Breves, a Secretaria dos Breves para os Príncipes e a Secretaria das Cartas Latinas.
O Papa Leão X instituiu outro cargo, o Secretarius Intimus, para ajudar o Cardeal que assume a orientação dos negócios de Estado e para a correspondência em língua vernácula, dirigida principalmente aos Núncios Apostólicos (que começavam então a ser instituídos com funções diplomáticas estáveis). Assim, a Secretaria de Estado desenvolveu-se especialmente no período do Concílio de Trento.
O Secretarius Intimus, também chamado Secretarius Papæ ou Maior, foi, durante muito tempo, quase sempre um Prelado, não raramente revestido da dignidade episcopal. Somente no início do pontificado do Papa Inocêncio X é que foi chamado a esse alto cargo uma pessoa já revestida da púrpura e não pertencente à sua família. O Papa Inocêncio XII aboliu definitivamente o cargo de Cardeal sobrinho, tendo o Cardeal Secretário de Estado assumido sozinho os seus poderes.
A 19 de Julho de 1814, o Papa Pio VII criou a Sagrada Congregação dos Assuntos Eclesiásticos Extraordinários, ampliando a Congregação Super negotiis ecclesiasticis regni Galliarum, instituída pelo Papa Pio VI em 1793. São Pio X, pela Constituição Apostólica Sapienti Consilio, de 29 de Junho de 1908, dividiu a Sagrada Congregação dos Assuntos Eclesiásticos Extraordinários na forma fixada pelo Codex Iuris Canonici, de 1917, e estabeleceu as funções de cada uma das três secções: a primeira delas tratava essencialmente dos assuntos extraordinários, enquanto a segunda se interessava pelos assuntos ordinários, e a terceira, que até então fora um organismo autónomo (Chancelaria dos Breves Apostólicos), tinha por missão cuidar da preparação e despacho dos Breves Pontifícios.
O Papa Paulo VI, com a Constituição Apostólica Regimini Ecclesiæ Universæ, de 15 de Agosto de 1967, cumprindo o desejo expresso pelos Bispos no Concílio Vaticano II, reformou a Cúria Romana e deu um novo rosto à Secretaria de Estado, suprimindo a Chancelaria dos Breves Apostólicos, que era a terceira secção, e transformando a que era antigamente primeira secção, ou seja, a Sagrada Congregação dos Assuntos Eclesiásticos Extraordinários, num organismo distinto da Secretaria de Estado, embora estritamente ligado com ela, e que tomou o nome de Conselho dos Assuntos Públicos da Igreja.
O Papa João Paulo II, a 28 de Junho de 1988, promulgou a Constituição Apostólica Pastor Bonus, pela qual, reformando a Cúria Romana, dividiu a Secretaria de Estado em duas Secções: a Secção dos Assuntos Gerais e a Secção das Relações com os Estados, na qual confluiu o Conselho dos Assuntos Públicos da Igreja. Deste modo, ficaram asseguradas tanto a unicidade como a diversidade específica do serviço que a Secretaria de Estado é chamada a oferecer ao Papa.
A Secretaria de Estado é presidida por um Cardeal que assume o título de Cardeal Secretário de Estado. Primeiro colaborador do Papa no governo da Igreja universal, o Cardeal Secretário de Estado pode ser considerado o máximo expoente da actividade diplomática e política da Santa Sé, representando, em circunstâncias particulares, a própria pessoa do Sumo Pontífice.

2. Cidade-Estado do Vaticano


2.1 Origem

A história diplomática do Vaticano começa no século IV, porém os limites do poder do papado evoluíram ao longo do tempo e séculos. Os papas, e as suas prerrogativas de poder temporal, lideraram uma grande parte da península italiana, incluindo Roma, por um milénio.
Desde que se instituiu a sede episcopal de Roma, os fiéis, e em maior medida os imperadores cristãos, foram fazendo doações à Igreja Católica Apostólica Romana de bens territoriais, alguns deles constituindo importantes extensões terrioriais. Estas possessões, junto com bens imóveis, vieram a integrar o que se conheceu como «Património de São Pedro», e estiveram disseminadas por toda a península Itálica e mesmo fora dela.
A sua administração, embora não convertendo inicialmente os Papas em chefes de Estado, conferiu-lhes autênticas prerrogativas civis e políticas reconhecidas pela Pragmática Sanção de 554 promulgada pelo imperador Justiniano I (uma vez que, após a conquista de Belisário, Roma voltava a estar sob a soberania dos imperadores, na sequência do interregno hérulo e ostrogodo), entre outras a de possuir uma força militar que chegou a constituir um respeitável exército posto em acção em múltiplas ocasiões, algumas delas sob as ordens do próprio pontífice.
Por outro lado, muitos dos Papas provinham das classes dominantes romanas e exerceram simultaneamente o cargo episcopal e o de mandatários civis de Roma. Tal foi o caso de Gregório I, o Magno (590 - 604), homem avezado no desempenho de funções políticas já que ostentara anteriormente o cargo de administrador da própria cidade (prefectus Urbis) e pertencia a uma família de patrícios romanos.
Mas é apenas no pontificado do Papa Estêvão II, por volta de 756, que nascem os Estados Pontifícios. O Império Bizantino dominava Roma e a sua sede pontifícia estava em declínio desde princípios do século VIII. O distanciamento em relação ao império do Oriente tornou-se cada vez mais patente e profundo, quase em autêntica ruptura, como quando o Papa Constantino I, enfrentando o imperador Filípico Bardanes, considerando-o herege, chegou a dirigir as suas armas contra o exarca bizantino. Em tal clima de tensão, sendo de temer a ofensiva do lombardo Astolfo contra Roma após ter-se apoderado este de Ravena, o Papa Estêvão II acode em busca de socorro aos francos. O seu rei, Pepino, o Breve, concede-lhe auxílio. A intervenção dos francos apaziguou a Astolfo, a quem aceitou entregar Ravena à "República Romana". Mas, retirados aqueles, o rei lombardo não cumpriu o seu compromisso e, para além disso, sitiou Roma. Seguiu-se nova chamada do Papa ao recente protector franco e nova acção deste em seu auxilio. Submetidos, por fim, os lombardos com a intervenção de Pepino, este fez entrega ao Papa, em 756, através do Tratado de Quierzy, do antigo exarcado de Ravena, do Ducado da Pentápolis (bispados de Rimini, Pesaro, Fano, Senigália e Ancona) e da região de Roma, conferindo ao sumo pontífice o domínio temporal de um Estado que, com algumas variações geográficas, havia de perdurar durante mais de onze séculos, até 1870. Não obstante, numa tentativa de extrair maior proveito político, Estêvão II exibiu um documento apócrifo provavelmente falsificado pela própria Cúria Romana, e supostamente encontrado três anos antes, a que logo se chamaria Doação de Constantino. Segundo este protocolo Constantino I teria cedido ao Papa Silvestre I, para si e para os seus sucessores, não só o palácio de São João de Latrão, o que de facto fez, mas também a possessão de toda a península Itálica e a dignidade imperial. No entanto, Pepino, o Breve, não acreditou no documento.
O perigo lombardo não tinha ainda terminado definitivamente graças às acções militares de Pepino, o Breve. O rei Desidério invadiu os Estados Pontifícios. Adriano I, papa no ano 774, pediu de novo aos francos para que lhe dispensassem a sua protecção, e, como anos antes teria feito seu pai, era agora a Carlos Magno que competia ajudar a Santa Sé. O resultado foi a restituição dos bens da Igreja e a promessa, não cumprida, de anexação de outros territórios. Em todo o caso, a maior parte da Itália central ficou constituída num estado independente sob governo dos papas. Em agradecimento, o papa coroou Carlos Magno como imperador romano no ano 800.

2.2 Período Medieval

Desfeito o Império Carolíngio, o autoproclamado rei de Itália, Berengário II, ameaçou as possessões eclesiásticas. O Papa João XII pediu o amparo de Otão, o Grande, e entrou triunfante em Roma. Na Basílica de São Pedro, o papa restabeleceu a dignidade imperial, coroando Otão como imperador do Sacro Império Romano-Germânico em 2 de Fevereiro de 962, enquanto que Otão, por sua parte, ratificou a potestade da Igreja sobre os Estados Pontifícios mediante o Privilegium Othonis.
A Itália meridional nunca formou parte dos Estados Pontifícios, mas esteve sujeita a vassalagem destes durante o período de dominação normanda. Em 1059, mediante a concordata de Melfi, após o concílio celebrado nesta cidade, o Papa Nicolau II outorgava a Ricardo de Aversa a investidura do Principado de Cápua, e a Roberto Guiscardo a do Ducado de Apúlia e de Calábria, assim como, para o futuro, do Senhorio da Sicília. Como contrapartida à unção papal com que se viram dignificados, comprometiam-se estes a prestar vassalagem ao Sumo Pontífice em todas as ocasiões. Roberto Guiscardo mostrou-se imparável nas conquistas e, em poucos anos, ocupou toda a Sicília; tomando aos muçulmanos Palermo, Messina, Bari, Brindisi, Amalfi e Salerno. Quando, em 1080, o Papa Gregório VII precisou do auxílio militar do normando, outorgou-lhe o seu beneplácito apostólico às conquistas em troca de uma formal declaração de vassalagem para com a Santa Sé sobre todos os territórios ganhos.
Na época final de pontificado do Papa Inocêncio II, por volta de 1143, coincidindo com o movimento reivindicativo municipal que se estendia por todas as cidades de Itália, o senado romano toma o poder civil dos papas. Sucessor de Inocêncio, o Papa Lúcio II, tentou restabelecer pelas armas a situação anterior e atacou o Capitólio à frente de um exército, mas o senado infringiu-lhe uma severa derrota. Arnaldo de Brescia colocou-se à frente da revolução popular e senatorial romana. Sob sua liderança pediu-se que o Papa depusesse todo o poder temporal, e que ele mesmo e o resto do clero entregassem as suas possessões territoriais. Roma afastou-se da obediência civil ao Papa e declarou-se como uma nova república.
Frederico Barbarossa devolveu ao Papa Adriano IV o governo dos Estados Pontifícios quando, desejando ser coroado imperador em Roma, entrou em 1155 na cidade com um forte exército e prendeu e executou Arnaldo de Brescia. Apesar disso, foi o próprio Frederico quem, por culpa de uma política expansionista que aspirava controlar toda a Itália, colocou anos depois os Papas em grave risco de perder as suas possessões.
O Papa Inocêncio III deu um impulso decisivo à consolidação e engrandecimento dos Estados Pontifícios. Submeteu definitivamente o município romano e privou de poderes o senado da cidade. Recuperou o pleno domínio daqueles territórios pertencentes ao património de São Pedro que o imperador tinha entregado a mandatários germânicos, expulsando os usurpadores da zona da Romanha, da Marca de Ancona, do Ducado de Espoleto e das cidades de Assis e de Sora. Pela força das armas, precedida da excomunhão eclesiástica, tomou os territórios em litígio que tinham constituído as possessões da condessa Matilde da Toscana e que, presumivelmente, tinham sido legados como herança à Santa Sé, mas que permaneciam na posse de vassalos do imperador. Desta forma obteve o reconhecimento por parte das cidades da Toscânia da sua soberania, e com ele o norte de Itália livrava-se do domínio germânico e ficava sob a órbita da autoridade pontifícia. Adicionalmente, como consequência da cruzada levada a cabo contra os albigenses no Midi francês, tinha conseguido de Raimundo VI de Tolosa a concessão de sete castelos na região da Provença, património que se incorporou ao da Igreja e que, logo em 1274, seria trocado, mediante acordo entre o Papa Gregório X e o rei Filipe III de França, pelo Condado Venaissino, região que compreendia terras que se estendiam entre o Ródano, o rio Durance e o monte Ventor.
Os Estados Pontifícios voltaram a passar por um difícil momento durante o império de Frederico II da Germânia (1215-1251). Foram Incorporadas no império a Lombardia e a Toscânia, depois da derrota da liga lombarda em 1239, Frederico propôs-se anexar igualmente o património de São Pedro para prosseguir o domínio de toda a Itália. Marchou sobre Roma, de onde se viu obrigado a fugir o Papa Gregório IX, percorreu desafiante e sem oposição toda a Itália, nomeou governador do território peninsular o seu filho Enzio e ele mesmo se elevou a senhor dos Estados Pontifícios. Não foi senão no ano de 1253, dois anos depois da morte do imperador, que o Papa Inocêncio IV pôde regressar a Roma retornado do seu exílio em França e retomar o governo da cidade e do resto dos domínios eclesiásticos.
Os Estados Pontifícios não podiam alhear-se dos acontecimentos que se estavam a produzir na convulsa península Itálica de meados do século XIV. Sem contar com a desvinculação de alguns feudos tradicionais da corte romana, como a Sicília, em poder agora da Coroa de Aragão, o Reino de Nápoles, sob autoridade da Casa de Anjou, e o próprio estado pontifício estavam em desmembramento. Assim o mostravam casos como o de Giovanni di Vico, que se tinha tornado senhor de Viterbo depois de usurpar uma extensa zona territorial pertencente ao Papa; ou o da insubmissão em que se encontrava o Ducado de Espoleto; ou o da fáctica independência da marca de Ancona; ou o da privatização de Fermo levada a cabo por Gentile de Mogliano e a de Camerino por Ridolfo de Varano; ou o da aberta rebeldia dos Malatesta; ou o de Francesco degli Ordelaffi, que se tinha apropriado de uma grande parte da Romanha; ou o de Montefeltro que era senhorio dos distritos de Urbino e Cagli; ou o da cidade de Senigália apartada da obediência papal; ou o de Bernardino e Guido de Polenta, que tinham tomado Ravena e Cervia, respectivamente; ou o de Giovanni e Riniero Manfredi que tinham feito o mesmo com Faenza; ou o de Giovanni d’Ollegio que mantinha a posse da cidade de Bolonha.
Era preciso uma actuação decidida e aplacante contra todos aqueles insurgentes se se quisesse reunificar o património de São Pedro. Aproveitando a presença em Avinhão do espanhol Gil Álvarez de Albornoz, arcebispo de Toledo e avezado militar, que havia participado com as hostes de Afonso XI de Castela na batalha do Salado e no cerco de Algeciras, o Papa Clemente VI eleva-o ao cardinalato e confia-lhe a missão de recrutar um exército. Dois anos depois (1353), entronizado já o Papa Inocêncio VI, levando uma bula com a qual se o nomeava legado papal plenipotenciário para os Estados Pontifícios, aplicou-se Gil de Albornoz na missão encomendada, conseguindo militarmente todos os seus objectivos. Recuperou os territórios que tinham sido usurpados e submeteu os altivos cabecilhas da insubordinação italiana; os Estados da Igreja voltavam, agrupados, à obediência temporal do Papa.

2.3 Período Renascentista

No período renascentista os Estados Pontifícios ganharam relevo. Isto porque Roma tinha-se tornado nesta época novamente a capital da Cristandade, após uma dura disputa com França sobre quem sucederia ao trono papal e onde se situaria a capital, se em França ou em Roma.

2.4 Movimentos Revolucionários

Os ares revolucionários que sopravam com força por toda a Itália originaram correntes impulsoras da unidade nacional. O rei sardo-piemontês Carlos Alberto de Saboia assumiu as iniciativas em prol de tal unidade e declarou a guerra à Áustria. O Papa Pio IX, que havia sido entronizado em 1846, não quis unir-se à causa, atitude que não lhe perdoou o povo romano. Estalada a rebelião, Pio IX teve que fugir de Roma em Novembro de 1848.
Em 9 de Fevereiro de 1849, aboliu-se o poder temporal do Papa e proclamou-se a República Romana. A favor do Papa, organizou-se um contingente militar formado por diversas nações católicas e, em 3 de Julho de 1849 era extinta a república. Em 12 de Abril de 1850, o Papa regressou a Roma, abolida já a efémera república. No Verão de 1859, algumas cidades da Romanha insurgiram-se contra a autoridade do Papa e adoptaram a plebiscitária resolução de anexar-se ao reino de Sardenha, o que se levou a efeito em Março de 1860. Nesse mesmo ano, Victor Manuel II solicitou formalmente ao Papa a entrega das regiões da Úmbria e das Marcas, o que Pio IX se recusou a fazer. As tropas sardo-piemontesas enfrentaram as do Papa, que seriam derrotadas em Castelfidardo (18 de Setembro) e em Ancona (30 de Setembro). A Igreja viu-se despojada daquelas regiões que, em união com a Toscânia, Parma e Módena - estas por vontade própria expressa mediante plebiscitos -, se anexaram ao crescente Reino da Sardenha (Novembro de 1860), que passava a denominar-se Reino de Itália. Os Estados Pontifícios ficavam definitivamente desmembrados e reduzidos à cidade de Roma e seus arredores, de onde o Papa, sob protecção das tropas francesas, seguiu na sequência o exercício da sua já diminuída autoridade civil.

2.5 A Questão Romana

A Questão Romana se refere à disputa territorial ocorrida entre o governo italiano e o papa durante os anos de 1861 a 1929, que culminou na criação do Vaticano pelo Tratado de Latrão durante o governo de Benito Mussolini.
Os chamados Estados Pontifícios, que compunham a parte central da península Itálica, pertenciam à Igreja Católica desde os tempos medievais, tendo sido doados por Pepino, o Breve, ao papa. No ano de 754, o Papa Estêvão II recebeu do rei franco Pepino, o Breve o Ducado de Roma e as terras conquistadas dos lombardos com o título de Património de São Pedro.
Em 1861, os italianos promoveram a unificação política da península, mas não conseguiram anexar Roma, dada a forte presença militar francesa em apoio ao papa. Em 1870, os alemães, liderados pelo Reino da Prússia, declararam guerra à França, durante o processo de unificação alemã. Napoleão III retirou as tropas francesas de Roma. Aproveitando este momento, os italianos anexaram Roma ao Reino de Itália. O Papa Pio IX não aceitou a perda do «Património de São Pedro» e declarou-se prisioneiro do governo italiano, dando origem à Questão Romana.

2.6 Histórico

A conclusão da terceira guerra de independência italiana não passou sem consequências para a situação política interna. Tanto os seguidores de Giuseppe Mazzini quanto os católicos lançavam violentas acusações contra a administração moderada. A isto juntou-se a crise do governo Bettino Ricasoli (formalmente determinada por um voto de desconfiança sobre a proibição de se ter comícios sobre a lei eclesiástica) e sua substituição por um governo presidido por Urbano Rattazzi em 10 de Abril de 1867.
Foi neste clima político, envenenado pelas polémicas e marcado pela crescente impopularidade do governo, que amadureceu a última empresa do partido de acção, intencionado a fazer marchar sobre Roma um pequeno exército de voluntários comandado por Giuseppe Garibaldi e a jogar a carta da insurreição popular na capital. Ainda uma vez Rattazzi assumiu uma atitude ambígua, antes aprovando tacitamente a empresa, e depois (chamado por Napoleão III a respeitar os empenhos assumidos pelo governo italiano), fazendo prender Garibaldi em Sinalunga, na província de Siena (24 de Setembro de 1867) e forçando-o a estadia obrigatória em Caprera.
Mas com isto não conseguiu parar a acção. Poucos dias depois, evitando o bloqueio naval em volta da ilha, Garibaldi conseguiu chegar até a Toscana e assumir o comando de mais de 9000 voluntários. No mesmo tempo, Napoleão III julgando que foram violados os acordos, ordenou a partida de Tolone de uma expedição de 20 000 homens com destino a Roma para garantir a protecção do papa.
Uma primeira tentativa de insurreição falhou entre os dias 22 e 23 de Outubro de 1867: um grupo de voluntários, guiado pelos irmãos Enrico e Giovanni Cairoli, penetrou na cidade com objectivo de levar armas para os revolucionários, mas deparou-se com os guardas pontifícios em Villa Glori. Os mortos foram 76, incluindo os dois irmãos comandantes.

2.7 Batalha de Mentana

Três dias mais tarde Giuseppe Garibaldi, chegando em Monterotondo (a poucos quilómetros de Roma), obrigou a guarnição pontifícia a se render, mas a 3 de Novembro de 1867, em Mentana (último posto avançado no caminho da capital), sofreu uma dura derrota por parte da guarnição francesa que tinha acabado de desembarcar em Civitavecchia e que era superior em número e sobretudo armada com os novíssimos fuzis Chassepots, que eram recarregáveis pela culatra. Forçado a recuar em território italiano, Garibaldi foi preso pelas tropas do rei [?] e enviado de volta para Caprera.
A onda de indignação da opinião pública contra o governo, presidido pelo general Luigi Federico Menabrea (sucedido a Urbano Rattazzi em 27 de Outubro de 1867 no auge da crise romana), e contra a França foi muito forte e juntou-se à crise social aberta pela lei sobre o moído. A 14 de Dezembro de 1869 o governo Menabrea foi forçado a demitir-se e foi substituído por um ministério presidido por Giovanni Lanza, que se valeu, como ministro das finanças, da obra muito eficaz de Quintino Sella.
Tratava-se de uma viragem em relação aos governos anteriores, regidos por homens de confiança do rei (o "partido da corte"), quase sempre sem grande experiência política e económica. Ele dedicou-se primeiro ao saneamento financeiro e ao equilíbrio do balanço, assumindo providências muito severas (entre as quais o aumento dos impostos diretos e indiretos, cortes nas despesas militares, redução dos escritórios centrais e periféricos). O governo Lanza gozou também de uma situação internacional particularmente favorável e aproveitou-se deste facto para resolver definitivamente a Questão Romana.
O conflito que explodiu em 19 de Julho de 1870 entre França e Reino da Prússia criou as condições para uma fácil intervenção militar pelo Reino de Itália. Já no começo de Agosto de 1870, Napoleão III foi forçado a retirar a pequena expedição que estacionava no Lácio, enquanto na Itália toda aumentava a pressão popular para que o governo acelerasse uma solução baseada na força. A 1 de Setembro de 1870, o imperador francês Napoleão III foi feito prisioneiro pelos prussianos e, no dia 4, em Paris, foi proclamada a república. No dia 5, o governo italiano decidiu por unanimidade ocupar Roma.
O conde Gustavo Ponza de S. Martino foi enviado para a capital para tentar uma solução pacífica com o Papa Pio IX. O rei Vítor Emanuel II oferecia ao Papa «todas as garantias necessárias para a independência espiritual da Santa Sé», mas o Papa recusou decididamente qualquer negociação. Assim o exército italiano, comandado pelo general Cadorna, invadiu o Estado Pontifício sem encontrar resistência. Foi necessário usar a força somente para entrar em Roma: a 20 de Setembro de 1870 a artilharia italiana abriu uma brecha nos muros perto da Porta Pia e a cidade foi conquistada. Morreram 49 soldados italianos e 19 soldados pontifícios.

2.8 O Papa Pio IX deflagrou a questão romana

A 2 de Outubro de 1870, um plebiscito sancionou a anexação de Roma e do Lácio ao Reino de Itália: em 135 188 votantes, 133 681 foram favoráveis e 1 507 contrários. Um mês mais tarde, Pio IX emanou a encíclica Respicientes na qual declarou "injusta, violenta, nula e inválida" a ocupação italiana, denunciou a condição de cativeiro do pontífice e excomungou o rei da Itália. De sua parte, o senado italiano votou, a 27 de Janeiro de 1871, a transferência da capital de Florença para Roma com 94 votos favoráveis e 39 contrários. Desaparecia assim o último território do poder temporal da Igreja Católica e no mesmo tempo foram subtraídos, ao movimento democrático, um objetivo e um argumento de agitação política que no passado tinham qualificado sua acção.
Desde então a esquerda mudará a sua identidade assumindo conotações profundamente diferentes. Os católicos, ao contrário, não modificaram a sua posição de rígida contraposição em relação ao novo estado italiano, não obstante o parlamento ter votado uma lei (lei das garantias de 21 de Março de 1871) com a qual assegurava para a Igreja a absoluta liberdade de culto e a soberania sobre os prédios do Vaticano, de Latrão e da casa de Castel Gandolfo considerados fora do território (extraterritorialidade), destinando também para a mesma, uma côngrua, doação anual, igual àquela que o erário pontifício pagava para o mantimento da corte do Papa.
Passaram-se alguns decénios para ser removida a absoluta e taxativa proibição de Pio IX de participar, mesmo que com o voto, da vida política (non expedit).
Ao lado da questão social, constituída pela revolta meridional, flanqueava-se, porém sem entrelaçar, a questão da conclusão do processo de unificação, começando pela questão romana que tornou-se mais incandescente pela decisão do primeiro parlamento italiano de declarar, na sessão de 27 de Março de 1861, Roma capital do Reino de Itália quando ainda a cidade estava firmemente nas mãos do Papa, garantido pelo apoio das principais potências da Europa.
A favor de uma rápida conquista de Roma mobilizou-se em particular o Partido de Acção e mais em geral os democratas. Depois que os moderados conseguiram dirigir e controlar plenamente o processo de unificação, para a corrente democrática a questão romana permaneceu praticamente como o único cavalo de batalha e único tema qualificativo para conservar e recuperar uma identidade e uma presença política significativa. De facto, ela servia particularmente para que a corrente democrática alcançasse seu objectivo:

  1. Em primeiro lugar, a relevância internacional da questão romana colocava-a no centro dos difíceis equilíbrios da complexa rede de alianças tecidas pelos moderados no contexto europeu. Fazer precipitar a situação acelerando e forçando o processo de unificação (pondo a questão romana em termos revolucionários) significaria colocar em gravíssima dificuldade a direita, fazer emergir suas contradições e colocar em crise toda a política externa. Tanto mais que a onda de geral simpatia da qual gozou a revolução italiana entre as potências liberais, andou rapidamente apagando-se, e a Itália, que com a unificação ficou maior do que o previsto, agora era vista com geral desconfiança.

  1. Em segundo lugar, a impossibilidade de separar a questão romana dá problemática político-religiosa exasperava a contraposição entre o intransigente anticlericalismo (e por certos aspectos, anticatolicismo) dos democratas e a lógica de mediação e de compromissos de uma parte da direita. A formula separatista de Cavour «livre Igreja em livre Estado» baseava-se de facto na ideia de um compromisso estável entre Estado liberal e Igreja católica, fundado sobre a renúncia, por parte da segunda, ao próprio poder temporal em troca do domínio espiritual, e sobre o empenho do primeiro a garantir não somente a plena liberdade religiosa mas o «primado ético-civil do catolicismo como base da vida nacional».

Neste sentido orientaram-se as negociações iniciadas pelo Conde de Cavour com a Santa Sede, e continuada por Bettino Ricasoli, que em 12 de Junho de 1861 sucedeu a Cavour na guia do governo. Católico praticante, o barão Ricasoli tentou convencer o Papa Pio IX para uma solução negociada, e de abrandar a posição francesa sobre a questão. Mas recebeu uma dupla recusa:

  • Pio IX defendeu o próprio poder temporal com intransigência, opondo um seco "non possumus" (não podemos) para as hipóteses diplomáticas italianas.
  • Napoleão III prolongou ulteriormente a permanência das tropas francesas no Estado Pontifício, avisando que uma iniciativa italiana naquele território seria considerada como uma directa agressão.


Contestado quer seja pela direita, que preferia uma maior cautela, quer seja pela esquerda, que queria uma política externa mais agressiva ameaçando o recurso à acção directa de tipo garibaldino, depois de apenas nove meses de governo, no dia 3 de Março de 1862, Ricasoli teve que apresentar a demissão.
Foi substituído por Urbano Rattazzi, mais perto das posições da esquerda e de qualquer modo convicto da oportunidade de repetir a manobra de Cavour de 1860 através do uso sem escrúpulos da acção extragovernativa garibaldina. Assim Giuseppe Garibaldi começou a organizar grupos de voluntários em Veneto (Veneza), animado pelo consenso tácito do governo italiano que, segundo uma técnica experimentada, esperava conseguir vantagens pela acção vindo de baixo sem se comprometer.
Mas o clima internacional tinha mudado. O apoio da Inglaterra não era mais incondicional como no passado. E o comportamento da França, que ficou mais atenta em relação a esta potência (Itália) que cresceu nas fronteiras meridionais, permanecia intransigente. Portanto, quando Napoleão III declarou sua aberta hostilidade para qualquer iniciativa, Rattazzi e o rei tiveram que intervir e dispersar com a força as organizações de voluntários.
O governo interveio com mais energia quando Garibaldi, poucos meses mais tarde, tentou a aventura do sul, concentrando seus voluntários na Sicília para marchar sobre Roma, na tentativa de repetir a gloriosa empresa de dois anos antes, levando-a desta vez até seu extremo cumprimento (liberação de Roma: «Ou Roma ou morte!»).
O governo italiano, empurrado pela França, proclamou o estado de sítio, ordenando às tropas regulares de deter os voluntários com o uso da força. O choque aconteceu no dia 29 de Agosto nas encostas do Aspromonte, na Calábria, onde o exército italiano não hesitou em abrir fogo. Garibaldi foi ferido (como recita o canto popular dedicado ao episódio: «Garibaldi foi ferido, foi ferido numa perna, Garibaldi que comanda, que comanda os seus soldados»), preso e aprisionado no forte Varignano.
Mas o governo Rattazzi não sobreviveu à crise que nasceu e poucos meses depois, no dia 8 de Dezembro de 1862, foi forçado a demitir-se. Da falência da aventura romana saíram como perdedores tanto os moderados (porque suas indecisões causaram uma profunda ferida ao orgulho nacional), quanto os democratas (porque seus métodos revolucionários revelaram-se ineficazes). Sobretudo resultou impraticável, na nova situação nacional, o entrelaçamento entre diplomacia moderada e acção direta democrática que, ao contrário, dominou a fase anterior.
Daquele momento em diante o governo teve que adoptar uma táctica totalmente diferente, feita de muitas negociações diplomáticas e atenta para desfrutar todas as frestas abertas no cenário europeu pelas contradições entre as potências dominantes. Esta via foi seguida pelo ministério presidido pelo moderado Marco Minghetti, que sucedeu em Março de 1863 ao governo de transição de Luigi Carlo Farini. Convicto da necessidade de uma solução consensual da questão romana, Minghetti moveu-se no plano diplomático com o objectivo prioritário de tranquilizar as grandes potências e em particular a França.
Em 15 de Setembro de 1863, esta política deu seu primeiro significativo resultado, com a assinatura de um acordo (a Convenção de Setembro) com Napoleão III, com que o governo italiano empenhava-se em defender as fronteiras do Estado Pontifício e a estabelecer a própria capital em Florença (tratava-se de uma implícita renúncia de Roma como capital), em troca da retirada das tropas francesas em dois anos. Desta maneira era garantida a benevolência de Napoleão III (cuja guarnição em Roma começava a custar demais) e contemporaneamente se colocava os democratas na frente do facto cumprido.
Mas a onda de impopularidade desta solução derrubou o governo. Os democratas denunciaram com força o caráter da definitiva renúncia de "Roma capital" e o risco de um "Aspromonte permanente" implícito no empenho italiano a tutelar as fronteiras pontifícias. No dia 21 de Setembro, Turim insurgiu-se contra a decisão de transferir a capital; foi uma repressão sangrenta que causou 30 mortes. Minghetti foi assim forçado a demitir-se (23. 09. 1864) e foi substituído pelo general La Marmora (28. 09. 1864).
O Vaticano, preocupado pelas possíveis consequências do acordo ítalo-francês, endureceu ulteriormente sua atitude intransigente, confirmando duramente sua condenação do liberalismo e de qualquer forma de modernização. Em Dezembro de 1864 foi publicada a encíclica Quarta Cura, juntamente com um «Silabo de erros» que incluía todos os princípios essenciais do liberalismo. Entre as muitas proposições enunciadas, a 79a afirmava que a liberdade de discussão corrompe as almas e a 32a que o clero tem o direito natural de ser isentado do serviço militar. A tolerância religiosa, a liberdade de consciência e de imprensa, a legislação subversiva, foram todas condenadas, juntamente com o socialismo, o racionalismo e as associações pela difusão da Bíblia, e era decididamente negado que o Papa tivesse ou pudesse descer a compromissos com o progresso, o liberalismo, a moderna civilização.
O Sílabo suscitou enorme indignação e a parte menos antiliberal do clero apressou-se a colocar em dúvida tanto o significado dele, quanto a sua autoridade, enquanto a maior parte da hierarquia eclesiástica o aceitou como um pronunciamento infalível (com base no dogma da infalibilidade do Papa em matéria de doutrina). Não faltaram porém alguns defensores que afirmavam que o Sílabo não impedia um católico de se definir liberal em política. Na realidade, considerando que as proposições condenadas se estavam a difundir rapidamente, podia-se esperar que a Igreja chegasse a um acordo com o liberalismo e a civilização moderna, num futuro não muito longe.
De qualquer modo sua publicação originária apareceu como um grave golpe contra as tendências favoráveis ao compromisso e provocou uma verdadeira onda de anticlericalismo. Francesco Crispi anunciou no Parlamento que a cristandade devia ser purgada dos vícios da Igreja romana ou morrer. Sucessivos governos conservadores propuseram que os seminários fossem submetidos ao controle do governo, que os prefeitos pudessem, quando necessário, interferir até na celebração dos ritos religiosos e que os padres pudessem ser denunciados e chamados a julgamento quando recusassem a absolvição para aqueles que foram excomungados por motivos políticos.
A sucessiva lei de 1866 suprimiu quase todas as ordem e congregações religiosas e confiscou seus bens. Quase 13 000 entidades eclesiásticas foram suprimidas e, com base nesta nova lei, outras 25.000 seguiram a mesma sorte. A parcial justificação veio fazer observar que era justo que uma parte dos bens da Igreja passasse ao Estado agora que este último entendia assumir a responsabilidade da instrução e da beneficência pública.
Os reditos das paróquias foram deixados intactos, mas os capítulos das catedrais e os bispos foram forçados a ceder ao Estado as suas propriedades recebendo em troca somente 5% (depois de ter deduzidos três décimos por escopos educativos e de beneficência pública). Os seminaristas foram obrigados a prestar o serviço militar e o novo código civil não deu sanção legal aos casamentos que não fossem celebrados segundo o rito civil.
Essa incómoda questão de disputas entre o Estado e a Igreja só terminou em 1929, quando o ditador fascista Benito Mussolini, necessitando de apoio da Igreja e dos católicos, assinou com o Papa Pio XI a Concordata de São João Latrão. Por esse tratado, firmou-se um acordo pelo qual se criava o Estado do Vaticano, o Sumo Pontífice recebia indemenização monetária pelas perdas territoriais, o ensino religioso era obrigatório nas escolas italianas e proibia-se a admissão a cargos públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina.

2.9 Fim dos Estados Pontifícios

Em 1870, estalou a guerra franco-prussiana e o imperador francês precisou de dispor de todos os efectivos militares, incluindo as unidades de guarnição em Roma. O recém-constituído Reino de Itália aliou-se à Prússia nesta contenda, pelo que contou com o beneplácito de Bismarck para actuar sem problemas contra as possessões do pontífice pró-francês. O Papa Pio IX reuniu oito mil soldados numa desesperada tentativa de resistir, mas o insuficiente exército papal não pôde conter as divisões italianas que marcharam patrioticamente sobre Roma. Em 20 de Setembro de 1870, entravam em Roma, logo declarada capital do Reino de Itália, com o estabelecimento da corte do rei Victor Emanuel II no Palácio do Quirinal.

2.10 Criação do Estado do Vaticano

A Cidade-Estado do Vaticano é a sede da Igreja Católica. É uma cidade-Estado soberana, sem costa marítima, cujo território consiste de um enclave murado dentro da cidade de Roma, capital da Itália. Com aproximadamente 44 hectares (0, 44 km²) e com uma população de pouco mais de 800 habitantes, é a menor entidade territorial do mundo administrada por um Estado.
A Cidade do Vaticano é uma Cidade-Estado que existe desde 1929. É distinta da Santa Sé, que remonta ao cristianismo primitivo sendo a principal sé episcopal de 1, 490 bilhão de católicos romanos (latinos e orientais) de todo o mundo. As ordenanças da Cidade do Vaticano são publicadas em italiano; documentos oficiais da Santa Sé são emitidos principalmente em latim. As duas entidades ainda têm passaportes distintos: a Santa Sé, como não é um país, apenas trata de questões de passaportes diplomáticos e de serviço; o estado da Cidade do Vaticano cuida dos passaportes comuns. Em ambos os casos, os passaportes emitidos são muito poucos.
O Tratado de Latrão, celebrado a 11 de Fevereiro de 1929, que criou a cidade-Estado do Vaticano, descreve-a como uma nova criação (preâmbulo e no artigo III) e não como um vestígio dos muitos maiores Estados Pontifícios (756-1870), que anteriormente abrangiam a região central da Itália. A maior parte deste território foi absorvido pelo Reino de Itália em 1860 e a porção final, ou seja, a cidade de Roma, com uma pequena área perto dele, dez anos depois, em 1870. Os papas residem na área, que em 1929 se tornou a Cidade do Vaticano, desde o retorno de Avinhão em 1377. Anteriormente, residiam no Palácio de Latrão, na colina Célio, no lado oposto de Roma, local que Constantino deu ao Papa Milcíades em 313. A assinatura dos acordos que estabeleceram o novo estado teve lugar neste último edifício, dando origem ao nome Tratado de Latrão, pelo qual é conhecido.
A Cidade do Vaticano é um Estado eclesiástico ou teocrático-monárquico, governado pelo bispo de Roma, o Papa. A maior parte dos funcionários públicos são todos os clérigos católicos de diferentes origens raciais, étnicas e nacionais. É o território soberano da Santa Sé (Sancta Sedes) e o local de residência do Papa, referido como o Palácio Apostólico.

2.11 História do Hino Nacional
           
No ano 1950, por ocasião do Ano Santo, Sua Santidade Pio XII, consentiu que a Marcha Pontifícia de Charles Gounod (1818-1893) fosse adoptada como Hino Oficial do Vaticano, tendo sido executada pela primera vez como hino oficial no dia 24 de Dezembro de 1949. Com tal aprovação, a Marcha Pontifícia como foi designada pelo própio autor (segundo outros, tambiém apelidada de Marcha Religiosa) assumiu o novo título de Hino Pontifício e substituíu o antigo, composto por Vittorino Hallmayr no ano 1857 ao estilo da época. Gounod, homem de profunda fé, tinha composto a marcha em honra de Sua Santidade Pio IX para festejar o Jubileo Sacerdotal. A dita marcha foi executada pela primera vez, na presença do Pontífice, no dia 11 de Abril de 1869, interpretada por 7 bandas militares, no sagrado da Basílica Vaticana. Apesar do êxito, não conseguiu substituir o antigo Hino de Hallmayr que tinha sido interpretado durante 81 anos.
Nos tempos antigos, cada corpo do dissolvido exército pontifício tinha sua própria banda musical e fazia uma exibição em desfiles e cerimónias solenes. Foi, de facto, de um grupos de jovens, nem sempre regularmente matriculados, geralmente filhos de soldados que não ultrapassavam os vinte anos, que foram escolhidos cerca de catorze alunos para servir como estudantes trompetistas e percussionistas. Eles traziam um crachá especial na farda que reproduzia o instrumento usado em ouro. Das gravuras do século XIX, descobre-se que os músicos, como tal, tinham bordada uma lira de prata, nas duas extremidades do colarinho. Na bandeira doada por Pio VII à Guarda Nobre são encontrados, misturados com outros frisos, dois trompetes entrelaçados. No regulamento sobre os exercícios e manobras das tropas papais, promulgada em 1856, são especificamente definidas as mensagens a serem ocupadas pelos tambores, trompetes e concerto musical.
Também a Gendarmeria Pontifícia tinha uma célebre banda musical, dirigida pelo professor Roland, que era aplaudida em qualquer manifestação civil. Já no organismo a partir do qual a 12 de Abril de 1871 nasceram os Gendarmes, estavam previstos catorze trombetas a cavalo e outros tantos bateristas a andar. A banda então dissolvida após os eventos romanos de 1870, foi restabelecida em 1904, com 28 elementos. O regulamento, agora ultrapassado, prescrevia as normas para as honras militares outrora concedidas. À passagem de Sua Santidade as tropas ajoelharam-se enquanto as trombetas e os tambores entoavam o Hino Pontifício. Para os Cardeais e Príncipes Assistentes ao Trono apresentavam as armas, enquanto a banda tocava o Marcha do campo. Para os Prelados de Fiocchetto e ministros do passado, se "transportavam" as armas, mas os tambores e os trombetas não estavam a tocar, limitavam-se a ficar em estado de prontidão. A música militar tornou-se representante de uma longa tradição no Vaticano.
O hino oficial do Vaticano existe desde 1857, composto pelo mestre austríaco Vittorino Hallmayr, director da Banda do XXXXVII Regimento de Infantaria da Linha "Conte Kinsky" do presídio austríaco no Estados Pontifícios, sediado em Roma. Foi essa música que ecoou nas ruas da capital, depois da reconciliação que ocorreu em 1929. Esta música que foi realizada, pela primeira vez, 9 de Junho de 1857, às sete horas da tarde, no acto de entrada de Pio IX pela Porta Maggiore, em Bolonha. A Marcha Triunfal de Hallmayr assumiu imediatamente o nome de Hino Pontifício, não existindo até então nenhuma hino oficial para os Estados Pontifícios. As notas do hino encontraram tanto favor, que se repetiram no mesmo dia, na Praça São Petrónio, em frente do palácio Legatizio, onde foi erguido um palco para o Santo Padre. As crónicas da época referem que a música, executada pelos IX e XX Regimento de Caçadores Austríacos, juntamente com a banda do I Regimento da Linha Pontifícia, encontrou sucesso imediato. Foi adoptado como acompanhamento durante toda a viagem do Papa, de Ferrara para Ravenna, de Modena para Florença, onde a executaram, na Praça da Senhoria, 8 bandas dirigidas pelo Maestro Matiozzi e, finalmente, em Roma, no regresso do Soberano, no dia 5 de Setembro de 1857. Feito próprio da Banda da Guarda Palatina de Honra, que mais tarde a Secretaria de Estado estabeleceria ao adoptar o hino de Hallmayr como hino da representação pontifícia.
A música do actual Hino Pontifício foi composto por Gounod para a devoção filial ao Papa por ocasião do aniversário da Coroação de Sua Santidade, o Papa Pio IX e a Marcha Pontifícia foi realizada pela primeira vez na tarde de 11 de Abril de 1869, por ocasião do Jubileu Sacerdotal do Papa. Naquele dia, na Praça de São Pedro, reuniu-se uma grande multidão para ouvir o extraordinário concerto das 7 bandas pontifícias, pertencente ao maior número de organismos e regimentos estacionados em Roma (Gendarmerie Pontifícia com o Maestro Roland, Regimentos de linha com o Maestro Baffo, Caçadores com o Maestro Pezzina, Zuavi com o Maestro Willimburg, Carabineiros estrangeiros, Legião Romana com o Maestro Angelini, o Regimento Dragoni), com o acompanhamento de um coro de mais de mil soldados, que teria dado em honra do Sumo Pontífice depois das funções solenes da manhã, na Basílica Vaticana. Aplaudidíssima, a Marcha Pontifícia de Gounod foi replicada várias vezes naquela tarde fatídica, como escreveu no dia seguinte l’Osservatore Romano.
Para a ocasião, Pio IX, que já tinha recebido os bons desejos e as missões diplomáticas de vários países, com a presença de uma multidão de cerca de cinco mil fiéis na Basílica de São Pedro, aplaudido, aproximou-se da varanda central da Basílica de São Pedro para responder à aclamação da população e para assistir ao concerto. As 7 bandas alinhadas nos degraus, tocaram, ao aparecimento do Pontífice a velha Marcha Triunfal de Hallmayr e o hino oficial do decreto papal deu início ao concerto seguindo o que o jornal do Vaticano do dia anterior tinha anunciado como «a nova canção escrita especialmente para a ocasião pelo Maestro Gounod, com uma imagem do coro a executar o hino por milhares dos nossos soldados». Dizer que o sucesso relatado pela nova composição era enorme é um eufemismo. O órgão do Vaticano informa-nos a 12 de Abril de 1869 que «a música foi repetida várias vezes».
Voltou a ser tocada muitas vezes mais tarde e manteve-se famosa pela sua grandeza e pelo seu andamento solene, tendências quase litúrgicas, ainda que não fosse hino papal durante 81 anos, esperava-se pela sua implementação imediata.
O Hino Pontifício de Gounod, que foi adoptado oficialmente na véspera do Ano Santo de 1950, é muito diferente daquele que foi composto por Hallmayer, que pelo estilo da época, com o seu ritmo vivo e brioso se assemelhava a uma valsa. Pio XII estabeleceu-o para substituir o hino oficial utilizado desde então nunca esquecendo a Marcha Pontifícia de Gounod, que com o seu tom religioso era considerado mais adequado aos nossos tempos. A música foi executada pela primeira vez como novo hino papal numa cerimónia austera no Sábado de 24 de Dezembro 1949 (véspera de Natal) e na abertura do Ano Santo de 1950, juntamente com o antigo hino, quase como para indicar o passado, a partir da Banda da Guarda Palatina de Honra (que acabaria por ser dissolvida, como foi observado por Paulo VI, em conjunto com todos os outros corpos armados no Vaticano, excluindo a Guarda Suíça) implantada com todos os seus departamentos no Pátio de São Damaso, depois da leitura de uma ordem do dia que foi comunicada à soberana disposição acerca da referida substituição.
Hoje, apesar de se executar, não é mais a banda gloriosa da dissolvida Guarda Palatina de Honra, embora continuem a ser praticamente as mesmas pessoas que compõem a banda civil actual, o  Hino Pontifício de Gounod, agora conhecido em todo o mundo, tocado na maioria das ocasiões solenes da vida do Estado, durante as cerimónias onde está presente o Sumo Pontífice ou um representante seu.
O Hino Pontifício também é tocado quando a bandeira do Vaticano é içada em forma solene e é executado na totalidade apenas na presença do Santíssimo Sacramento, do Santo Padre ou na recepção oficial dos chefes de Estado estrangeiros, juntamente com o hino nacional dos seus respectivos países, bem como fora do Vaticano, quando o Papa vai para a Visita Apostólica a uma nação, ou quando um legado papal é recebido oficialmente num país estrangeiro. São tocadas apenas as primeiros oito frases na presença da bandeira do Estado. Quando as honras são prestadas por unidades armadas, o hino é precedido por três explosões cuidadosas.
Em qualquer caso, será importante sublinhar que o Hino Pontifício não pode ser usado como hino nacional: as palavras do Maestro Antonio Allegra e do Maestro Raffaello Lavagna falam ao coração de todos os que mundo veêm em Roma a Sé de Pedro.
As características composicionais e musicais que tornam tão famoso o Hino Pontifício de Gounod, foram descritas pelo Maestro Antonino De Luca, Director da Banda Palatina, na sua Vida Palatina em Fevereiro de 1950, com as seguintes palavras:

«A Marcha Pontifícia de Gounod, que revela a personalidade vigorosa do autor do Fausto, é uma composição de andamento majestoso. A primeira parte, no tom de Fá maior, começa com o toque de uma trombeta, à qual se junta a orquestra inteira, para significar e enfatizar a atmosfera de serena grandeza. A segunda parte, pelo contrário, está em contraste com a primeira: no centro está um novo sentimento profundamente religioso, que nasce de um sentido de superioridade do espírito. A terceira parte começa com um fortissimo que marca quase uma imperiosa separação de toda a solicitude terrena».

Durante as filmagens do Hino de Gounod em 1949, o Mons. Antonio Allegra (1905-1969), um dos organistas da Basílica de São Pedro da época, compôs um texto italiano, hoje comumente cantado, que começa com as palavras Roma imortal, dos mártires e dos santos.
Curiosamente, o hino oficial do Vaticano nunca teve palavras latinas. Para que pudesse ser cantado por todos os fiéis do mundo, independentemente da sua língua nacional, o Hino Pontifício de Gounod foi equipado dotado mais tarde de um texto em latim, que começa com as palavras O felix Roma - Roma nobilis, devido ao Cónego de Savona, o Mons. Raffaello Lavagna (1918 -?). O autor inspirou-se para a sua elaboração nas várias citações petrianas contidas nas Escrituras. Foi executada pela primeira vez em privado pelo coro Iubilate Deo, dirigido pela Irmã Dolores Aguirre, no dia 15 de Junho de 1991, na presença do Santo Padre, durante a sua visita ao Centro de Difusão de Santa Maria di Galeria, por ocasião do 60º aniversário da fundação da Rádio Vaticana. A primeira apresentação pública foi realizada pelo coro e orquestra de Mitteldeutscher Rundfunk de Leipzig a 16 de Outubro de 1993, na Sala Paulo VI, por ocasião do 15º aniversário de João Paulo II e do 100º aniversário da morte de Charles Gounod.
Além das transcrições usuais para bandas de música (os arranjos mais complexos realizados por bandas durante as cerimónias papais são de S. P. Van Leeuwen, Reginaldo Caffarelli e Antonino De Luca), do Hino Pontifício há também reduções para orquestra, piano e coro, devido ao trabalho do Maestro Alberic Vitalini da Rádio Vaticana. Além disso, a música foi também gravada pelo mesmo Vitalini, distribuída pela Livraria Editora Vaticana, juntamente com composições Tu es Petrus, Christus vincit, e o Som dos Sinos de São Pedro.

[Fontes: Antonino De Luca, Vita Palatina, Febbraio 1950; Fernando Bea, La Città del Vaticano (XXXIV) - L' Inno Pontificio, Studi, Redazione Centrale, Direzione dei Programmi, Radio Vaticana, 21.12.1973, Anno XVII n, 188; Rinaldo Panetta, L'Inno pontificio e la sua storia, L'Osservatore della Domenica, 15 Giugno 1980; Niccolò Del Re, Mondo Vaticano-Passato e Presente, Libreria Editrice Vaticana, 1995]

DOMINGO III B DA QUARESMA


LITUGIA DA PALAVRA

LEITURA I Ex 20, 1-17 (cf. Jo 1, 17)
«A lei foi dada por Moisés».

SALMO RESPONSORIAL
Sl 18 (19), 8.9.10.11 (R. Jo 6, 68 c)
Senhor, Senhor, *Vós tendes palavras de vida eterna :||

LEITURA II 1 Cor 1, 22-25
«Nós pregamos Cristo crucificado,
escândalo para os homens, 
mas sabedoria de Deus para os que são chamados».

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO Jo 3, 16
Louvor a Vós, Rei de eterna glória, louvor a Vós :||
Deus amou tanto o mundo †
que lhe deu o seu Filho Unigénito; 
quem acredita n’Ele tem a vida eterna.

EVANGELHO Jo 2, 13-25
«Destruí este templo e em três dias o levantarei».

* NOTA: Devido a razões históricas, as Antífonas do Próprio da Missa mantiveram-se inalteráveis para conservar a tradição. Contudo, o que pretende ser a conservação de um tesouro musical acaba por gerar incongruências, como é o caso do presente Domingo, em que as Antífonas de Comunhão oficialmente propostas em nada condizem com a Liturgia da Palavra. A este problema respondeu a igreja italiana com propostas novas alocadas no missal oficial, como se pode comprovar em
[http://www.maranatha.it/MessaleRomano/coverpage.htm]. Infelizmente, o Missal Português não prevê nada semelhante.
Neste sentido, lanço neste blog a minha opinião pessoal sobre aquilo que considero serem as melhores opções diante das leituras proclamadas na Liturgia da Palavra.

CÂNTICOS PROPOSTOS:

ANTÍFONA DE ENTRADA:
Conduzi-me, Senhor [Teodoro de Sousa]

SALMO RESPONSORIAL:
Senhor, Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna [Manuel Luís]

ANTÍFONA DE OFERTÓRIO:
Nós pregamos Cristo crucificado [Manuel Luís]

ANTÍFONA DE COMUNHÃO:
O templo de Deus é santo [Carlos Silva]

ANTÍFONA DE PÓS-COMUNHÃO:
Cremos em Vós [L. Mason]

ANTÍFONA FINAL:
É preciso renascer [José Pedro Martins]